Os efeitos causados pelo El Niño, combinados com inflação dos insumos, queda dos preços de commodities e juros elevados persistentes, criaram um cenário adverso para o setor, que deve enfrentar um avanço do número de recuperações judiciais em 2024, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg Línea.
As duas maiores recuperações judiciais do agronegócio atualmente superam um passivo individual de R$ 1 bilhão cada uma, segundo o levantamento. A Sperafico Agroindustrial, do Paraná, tem uma dívida de R$ 1,07 bilhão. Já a Usina Maringá, que integra um grupo de empresas com atuação no Estado de São Paulo, acumula dívida de R$ 1,02 bilhão (confira o ranking abaixo).
A terceira maior dívida nesse ranking, de R$ 664,8 milhões, pertence à Elisa Agro. A empresa alegou em petição inicial que uma conjunção de fatores levou ao pedido de RJ: os impactos da covid-19, a guerra na Ucrânia que afetou o fornecimento global de insumos, a queda dos preços de commodities agrícolas e a estiagem em setembro de 2020 contribuíram para o quadro de dificuldades.
A quarta maior dívida do levantamento, da Usina Açucareira Ester, de R$ 651,7 milhões, também tem como pano de fundo os efeitos da pandemia e a guerra na Ucrânia, além de dificuldades relacionadas sao clima. O grupo foi fundado em 1898 e tem a produção de açúcar e etanol como principal operação.
Para um dos sócios do Leite, Tosto e Barros Advogados, Rodrigo Quadrante, as recuperações judiciais no campo estão começando a aumentar. “Certamente esse movimento deve se intensificar no segundo semestre, em meio à queda da produtividade por causa do El Niño e a inflação dos insumos”, avaliou. Ele acrescentou que, no agro menos profissionalizado, a tendência deve ser ainda mais acelerada.
Em sua visão, os negócios que envolvem produtos com menor valor agregado, como grãos, devem sofrer mais. “O aumento do preço dos insumos, o El Niño e a quebra da safra vão machucar o setor.”
Crise espraiada
De usinas de etanol a diversas culturas de alimentos, o setor tem registrado avanço de recuperações judiciais. Segundo levantamento divulgado pela Serasa Experian, a demanda por recuperação judicial de empresas de produtos e serviços que se relacionam diretamente com o agronegócio (exceto produtores rurais que atuam com perfis jurídicos) cresceu de forma significativa em 2023.
No total, foram 321 pedidos no ano passado, ante 176 requisições em 2022, um aumento de 82%. As empresas estão inseridas em segmentos como produção e revenda de insumos, agroindústrias, comércios atacadistas, serviços de apoio à agropecuária, fábricas e revendas de máquinas agrícolas, entre outros.
Ainda segundo a Serasa Experian, também houve aumento dos pedidos de RJ por parte dos produtores rurais que atuam com perfis jurídicos (PJ), de 90 (em 2022) para 116 ao longo de 2023.
Quadrante, do Leite, Tosto e Barros, explicou que, em muitos casos, a pessoa física se mistura com o empresário do agronegócio. “Nesse tipo de situação, não estamos falando de uma empresa, mas, sim, de uma pessoa física como produtor. Existem RJs de produtores rurais com dívidas extremamente elevadas.”
Leia mais na reportagem da Bloomberg Línea.